10 janeiro 2007

Amar...

Vou postar estes poemas do Neruda, que eu mesmo (ainda) estou digitando (eu, diga-se de passagem). São cinco e doze da manhã. Eu cheguei em casa quatro e pouco. Fui ficando louco e decidi, às quatro e cinqüenta e quatro, postar estes textos. Eu cheguei em casa com as costas arranhadaças por pular uma tremenda cerca de arames farpadíssimos (tô exagerado! Sohhh uhsasuha também), enfim, cheguei em casa com amor no corpo. Foi massa! Sou do tipo, segundo uma professora de Literatura minha (Nossa! O suor está ardendo as minhas arranhaduras...) eu sou do tipo de amor Sátiro ou Eros, sei lá, qualquer coisa que envolve putaria. Mas é amor! But... Então! Então eu cheguei em casa, comecei a ler Neruda e a pirar, e decidi postar uns poemas dele para celebrar o amor. Primeiro eu procurei ver se achava umas paradas do Cem Sonetos de Amor, que é o livro que eu estava lendo, nem achei, mas, também, eu busquei de qualquer jeito. Que se foda! Já digitei um, digitarei mais. Pronto, estão os três digitados. Vou digitar também o prefácio do livro e postar esta parada antes que o fogo apague e eu me arrependa deste arroubo passional. Portanto, ao Neruda. CEM SONETOS DE AMOR – PABLO NERUDA A MATILDE URRUTIA Senhora minha muito amada, grande padecimento tive ao escrever-te estes malchamados sonetos e bastante me doeram e custaram mas a alegria de oferece-los a ti é maior que uma campina. Ao propô-lo bem sabia que ao costado de cada um, por afeição eletiva e elegância, os poemas de todo tempo alinharam rimas que soaram como prataria cristal ou canhonaço. Eu, com muita humildade, fiz estes sonetos de madeira, dei-lhes o som desta opaca e pura substância e assim devem alcançar teus ouvidos. Tu e eu caminhando por bosques e areais, por lagos perdidos, por cinzentas latitudes recolhemos fragmentos de pau puro, de lenhos submetidos ao vaivém da água e da intempérie. De tais suavíssimos vestígios costruí com machado, faca, canivete estes madeirames de amor e edifiquei pequenas casas de quartorze tábuas para que nelas vivam teus olhos que adoro e canto. Assim estabelecidas minhas razões de amor te entrego esta centúria: sonetos de madeira que só se levantaram porque lhes deste a vida. LXXXIX Quando eu morrer quero tuas mãos em meus olhos: quero a luz e o trigo de tuas mãos amadas passar uma vez mais sobre mim seu viço: sentir a suavidade que mudou meu destino. Quero que vivas enquanto eu, adormecido, te espero, quero que teus ouvidos sigam ouvindo o vento, que cheires o amor do mar que amamos juntos e que sigas pisando a areia que pisamos. Quero que o que amo continue vivo e a ti amei e cantei sobre todas as coisas, por isso segue tu florescendo, florida, para que alcances tudo o que meu amor te ordena, para que passeie minha sombra por teu pêlo, para que passeie minha sombra por teu pêlo, para que assim conheçam a razão de meu canto. XCII Amor meu, se morro e tu não morres, amor meu, se morres e não morro, não demos à dor mais território: não há extensão como a que vivemos. Pó no trigo, areia nas areias, o tempo, a água errante, o vento vago nos transportou como grão navegante. Podemos não nos encontrar no tempo. Esta campina em que nos achamos, oh pequeno infinito! devolvemos. Mas este amor, amor, não terminou, E assm como não teve nascimento morte não tem, é como um longo rio, só muda de terras e de lábios. XCIII Se alguma vez teu peito se detém, se algo deixa de andar ardendo por tuas veias, se tua voz em tua boca se vai sem ser palavra, se tuas mãos se esquecem de voar e dormem, Matilde, mor, deixa teus lábios entreabertos porque esse último beijo deve durar comigo, deve ficar imóvel para sempre em tua boca para que assim também me acompanhe em minha morte. Morrerei beijando tua louca boca fria, abraçando o cacho perdido de teu corpo, e buscando a luz de teus olhos fechados. E assim quando a terra receber nosso abraço iremos confundidos numa única morte a viver para sempre de um beijo a eternidade.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Foi quando eu conheci a Patricia.



Beto

6:12 PM  

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